terça-feira, 1 de março de 2011

CRONOLOGIA DESCONEXA

“Visão” este conceito de enxergar está impregnado em todos, grudado, até mesmo nos cegos que se utilizam da imaginação para criar um mundo paralelo diante da escuridão, o ver é outro ver, não a finalização da concretização materialista do que há, essa visão é mais profunda, em algo mais enigmático.
Começar é uma espécie de algo cabível. Opta, escolhe e iniciam, talvez, circunstâncias levem o tomar de decisões.
Uma mulher seria uma dentre tantas outras normal?
 Não. Ao que se percebe é uma “mãe”. Uma mãe qualquer? Isso seus filhos dirá.
O plano de fundo é simples: cortinas, com dois cordões como se fossem cordas, um pouco mais finas, na ponta terminal destes cordões dois pompons adornados de pêlos macios. Em frente dois sofás dispostos, sem estarem metricamente organizados, num canto da sala. O estilo é bem clássico, uma mesa, expondo alguns álbuns de fotografias temporais, almofadas com cores extremamente envelhecidas, minimamente charmosas.
Em seu colo esta um bebê, de certo ao improvável, tem quatro meses. O olhar dessa mãe é de vida, de alegria pela própria vida em seus braços, celebremos esta alegria, compartilhemos o olhar de esperança ao rememorar.
Outra visão já se acercava, o plano de fundo agora era praticamente o mesmo com algumas alterações, neste quase-mesmo plano é possível ver a cor da parede, de um dourado claro, sem luz, mas, não morto, com algumas cores vivas. Agora se soma na paisagem conhecida um senhor de olhos fechados, como se gozasse de um êxtase. Descrever o seu olhar é quase que nulo. Tentar transportar para este local para perguntar-lhe qual sua sensação, se possível fosse seria um alegria matar a golpe certo a curiosidade. O bebê nesse momento esta nas mãos do senhor. Duas pessoas entram, com clareza parecem ter idade avançada, no fundo as paredes se modificam rústicas sem acabamento, o chão cru, sem cimento, pedra, terra, ou qualquer tipo de acabamento. O bebê passa de uma mão para a outra, agora uma senhora o embala, esta mulher tem olhos de pessoa que sofreu e cresceu, provavelmente teve que crescer e, maturar se impõe na vida de todos. O senhor do lado esquerdo têm olhos negros com uma doçura indescritível, seus trajes de uma simplicidade esmagadora, seu rosto resplandece um amor, uma compreensão inatingível, algo não palpável a um vocabulário tolo, definir se torna dispensável ao tamanho da ignorância que surge na tentativa de exprimir sentidos.
Agora a visão volta-se para um passado quase presente, são quatro nesse momento, dois são jovens, aparentemente, se demonstram sonhadores, quem poderá descrever o futuro dos sonhos? Entretanto, existe uma menina afora o bebê, esta é diferente, explode em sorrisos meigos e abertos a mostrar assim uma magia jovial, cheiro de vida, pura, sem nódoas, máculas, tudo se torna um celeiro de sonhos infantis, seu rosto parece ter sido tecido com linhas finas, mas, com fortes expressões de tenacidade. O bebê esta no colo do homem, este parece ingênuo, ou tolo por demasiada mostra de compreensão no olhar.  
Walter Astrada
A última visão da narração arrebatadora vem na forma de um casal, este formado por uma menina que aparenta ignorância mesclada com delicadeza, é como se fosse à tentativa de deduzir uma visão múltipla. Ela pede socorro, mas, não sabe do quê tem medo e para quem pede socorro! Têm cabelos enrolados, negros, com um brilho intenso jogado ao leu, os dentes banhados no puro leite, uma pele como um rio de reflexos. Seu companheiro tem cabelos louros, rosto fino, sem sorriso desinibido, este homem é o velho garoto promissor. Tudo parece contraditório a uma racionalidade imune a sentimentalismos.


"Uma voz no vento
Chama azul do dia
Doce perfume, canção
Uma voz no tempo
Resiste na noite
E as lágrimas fogem de ti
Uma voz no vento
Uma voz me chama
Brisa de amor, doce coração
Uma voz no tempo
Carinho na alma
E as lágrimas fogem de ti...”
(Uma voz no vento - voz: Leila Pinheiro)


3 comentários:

  1. Nossa, eu adorei o estilo desse conto... ficou perfeito. "O estilo é bem clássico, uma mesa, expondo alguns álbuns de fotografias temporais, almofadas com cores extremamente envelhecidas, minimamente charmosas."

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  2. Ah super honrado pelo seu comentário. O texto só acontece quando dividido, compartilhado...

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  3. “Há muita coisa para ver, mas nossos olhos da manhã descrevem um mundo diferente do que os nossos olhos da tarde contemplam, enquanto os olhos da noite, cansados, só podem registrar um mundo noturno cansado.”
    John Steinbeck


    seu estilo de escrever apesar de perturbador é fascinante :)

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