domingo, 27 de fevereiro de 2011

ECO-ar

Hiroshi Sugimoto - Parafuso, 2004

EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE
EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEC
EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEECO
EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEECOA
EEEEEEEEEEEEEEEEEEEECOAR

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

UM, DOIS, TRÊS...

Henry Cartier Bresson,
Dieppe, France, 1926.

 Um, dois, três... Seguia contando o balanço das pernas. As pernas cortavam o ar em movimentos retilíneos e rápidos. De longe alguém observava o balanço das pernas e da cabeça. A cabeça se movimentava lentamente. Movimento delicado. Os ossos faziam um barulho, estralo. Ele ficava com a feição de quem deseja respirar e suspirar. Olhava-a de maneira afável como se a conhecesse há muito tempo. Tal sensação era típica das pessoas por quem tinha apreço. Quem não os conhecia admiraria a visão ao longe. Uma fonte redonda e os dois sentados. Movimentava a cabeça, as pernas e raramente os braços. Todos os movimentos com lentidão a capturava como se estivesse a filmá-la.
Depois de algum tempo o inesperado aconteceu. Conheceram-se apesar de se admirarem a muito tempo. Para aquele – ele tudo aconteceu como um sonho do qual sonhava há muito tempo. Logo, casaram-se e não seriam mais aqueles – dois, formariam “ele e ela, - talvez um”.
Alguém passou e os viu. Estavam abraçados, embalados pelo imaginado amor. O vento batia na face de ambos. A saia levantava conforme a intensidade do vento juntamente com os cabelos ao léu. No enlace do abraço, havia uma carícia muda. Ambos mantinham nas trocas de olhares uma melodia. A melodia era lenta e ouvida somente pelos dois a formar assim um mundo impenetrável por outros.
Ele – um, lembrava sempre o primeiro dia que a viu. O vento estava presente, o céu parecia tomar outras tonalidades. Cores que o emocionavam. Ela – uma, ficava com a face tonalizada com cores suaves. Sua pele ficava com uma claridade que acentuava sua beleza. Ele – um não sabia como sobrevivera com seu coração batendo tão exasperadamente. Enfim “ele e ela, talvez um” só o tempo confirmará, revelará, ou mostrará o que é a prova da poeira e o que não é!

domingo, 13 de fevereiro de 2011

ONTEM, AMANHÃ: MANHÃ

As gotas de orvalho ainda permaneciam nas folhagens,
Os galhos entrelaçados desdobrando braços,
podem espreguiçar soltos ao vazio,
agora preenchidos por suas folhas;
Os pássaros transitam de uma ponta a outra naquele vazio preenchido,
  faz-se uma bela melodia de dó, ré, mi, fá, que surge do imaginário;
O vento toca nas pequenas ramagens e folhas,
forma dança uníssona;
Telhas jogadas ao chão,
quebradas,
outrora fora um telhado,
 abrigo,
aconchego,
  já não tem serventia: largadas, quebradas;
O ser-pensante caminha com a camisa envolta em nó no pescoço,
um herói,
 mas não o que caminha
 e sim as borboletas que voam,
realizam shows no ar de magia e beleza indizíveis;
O toldo da casa velho ressecado pelo sol,
 para seus habitantes é ou fora um palácio,
 só resta pai e mãe,
os filhos que comungavam ali partiram;
ao lado late um pequeno cachorro;
O sol timidamente não aparece só dá relances,
 de um possível calor que porventura virá,
 o céu ainda branco desprovido de cor,
e assim revela transcendental beleza,
inatingível para exprimir nas vãs palavras;
Anti tudo
 que não possa ser
 parnasiano-moderno-concreto-neo-pós-nós-bossa-nova-rock’n’roll-samba-tropicalia;
A delicadeza dos passos se redobra,
 no chão as formigas carregam folhas maiores que seu próprio ser;
Se finda o deslumbre,
e uma tristeza
 aguda,
sensível,
Teresa Canelas - Lugares Sonhados
invade;
 o ser-pensante que volta para o seu lar:
 consola a si, a ela, a ele, aos seus...

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Gota Colorida

 Marc Riboud, Artwork
Vá gota, pingo d’água,
Cai, segue teu rumo,
Cumpra com teu ciclo,
Caia na terra, deságüe no rio...

Alma
Busque teu complemento,
Tua inspiração, aquilo que lhe colori.

Cristais reluzentes batem no telhado;
Luzes no céu se acendem,
Com uma intensidade, gritos: trovões!
Saudações por todo o céu.

Saúdem a inspiração.
Recíproca: saúdo o grito com o grito de minha alma.


quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

TODAS AS MULHERES DO MUNDO

Willy Biondani
Passava uma mulher com uma protuberância dos lados com óculos que exprimia da minha imaginação uma miopia ou astigmatismo; gritava ou suavemente a sua maneira, chamava seu filho que ia a frente a deixando para trás, as gotas de suor e a fisionomia de cansaço invadiam todo seu rosto, sem ao menos um traço delicado que disfarçasse essa estafa da vida. Essa mulher-sem-nome totalmente estranha aos meus olhos, mas, que se me familiarizava aos poucos, com a distância que ia se encurtando conforme nos aproximávamos; senti vontade de sentar e pedir-lhe que sentasse ao meu lado, no meu caso, certamente e evidentemente eu iria respirar fundo, pôr as mãos no bolso, pegar o maço e o isqueiro e, por conseguinte fumar; queria saber mais sobre aquela vida, minha mente ficava a divagar sobre como seria ver o mundo através daquelas lentes, o mundo que eu via no exato momento, estava sem cores, muito quente, com pessoas apressadas, e outras com faces conhecidas que fingiam não me ver ou faziam de propósito não me reconhecerem para que assim não necessitassem parar e ter um colóquio proposital que a situação iria exigir. Atravessei ao lado dessa mulher-sem-nome que acho digno chamar-lhe de todas as mulheres, havia algo nela essencialmente feminino, talvez os passos apressados e a tentativa de fazer com que seu filho ficasse ao seu lado e não a sua frente, porque provavelmente poderia perdê-lo, algo na sua essência que minha ignorância apressada não poderia captar; com absoluta certeza ao recordar tinha algo de todas as mulheres: o suor que pingava demonstrando que carne-osso, as expressões no rosto que sem nenhum pudor mostrava a vida sofrida que levara e provavelmente levava até o exato momento, o óculos sem designer nenhum, com lentes muito grossas e redondas, que denotava um charme bem discreto de quem escolhe uma armação barata mas que tem um refinado e modesto gosto pelo clássico. Assim a vida descortinou mais uma expressão de suas possibilidades de reflexão.
Quando enfim cheguei ao destino proposto por mim, estava eu com o rosto molhado, juntamente com os braços e pescoço. Fiquei com essa mulher que a partir de então representaria todas as mulheres para mim, pela simples combinação: força, resistência e feminilidade. 

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Saudade Chris

Chris esta imerso no seu universo macro-cosmo. Quer viver tão intensamente que se joga num ciclo que o faz perder a percepção. Seu nariz exprime com sua ponta delicada uma sutil fineza. O que busca? Corpo? Prazer? Companhia?
O fato: a solidão lhe é totalmente incômoda e estranha, de uma estranheza absurda que se aproxima do insuportável. Quando fechava a face, supostamente sinônimo de desencontro com algo que para si era inconcebível, incompreensível... Tanto amor exalando dentro de si esbarrando com a dificuldade de demonstrá-lo. Nunca quis ferir, e se o quis o intencional estava ali presente, ao avesso, armar e se desarmar lhe levava ao encontro do desencanto com a vida. Porém, ressurgia daí o etílico, tão aparentemente dócil, que embriagava, misturando amor e ódio, tão sinônimos, de forma espontânea acordava para as responsabilidades que o chamavam todas as manhãs. O cansaço do maquinal, de seu próprio ponteiro produzia-lhe uma tristeza no olhar como se quisesse gritar silenciosamente ou telepática: - “Olhem para mim! Abracem-me, sejam sinceros, espontâneos...” (Sem que isso parecesse pedante ou sinal de carência).  Mas o silêncio o acometia de tal modo que levado a um estado de imersão preso dentro da sua torre, percorrendo a galopes lentos e por vezes rápidos, acelerados pensamentos e disposto a dividi-los com quem os quisessem ouvi-los.
Rude jeito, de um lado, de outro não tão distante do primeiro, gotas de uma alegria, de um sorriso que abria margem para outros pensarem com quem se parecia (com sua mãe ou pai?); a incógnita pairava e facilmente era esquecida.
Sua vontade imperante: manter a casa sempre cheia, assim a solidão não lhe tomaria na ressaca dos dias tediosos. O pressuposto é que a vida estava/está tão intimamente presente em Chris que o seu amor calado explode por seus poros, quando restritos, de tanto transbordar ao ponto de suar, transpirar e colocar isso de alguma forma nas coisas que fazia/faz.
Chris que saudades...

 Eduardo Teixeira Pinto
(Uma carinhosa homenagem a Eduardo Capute, fiz às pressas pois a inspiração e a lembrança vieram tão inesperadamente que senti a necessidade de postar)

Solidão Sacra

Tão só absorvendo a luz do sol, à espera de almas caridosas que o olhem!

DEVANEIOS

 Boris Kossoy

Vão se dissipando os últimos raios de sol no horizonte, que mal se podem enxergar pelas casas. Fica apenas aquele colorido risonho e vergonhoso. Na casa ao lado, a música alegre acompanhada por risos estridentes. No quarto, só restam o cinzeiro e o corpo nu e solitário. Já não mais sente a dor de estar sozinho. O tempo vai adaptando-o, moldando-o para que, num inesperado momento, alma e corpo estejam finalmente prontos para a grande aventura de encontrar o preenchimento que outro deixou. A fisgada presente, latente da solidão. Dói-lhe passar os dias só, sem estar (ou ao menos saber estar) na mente de alguém: qualquer um que se lembrasse e telefonasse, ou que apenas viesse tomar uma xícara de café... Provavelmente daria seus ouvidos a esse ser que caridosamente viesse comungar com a sua solidão ou juntar-se a ela.
Este estado de percepção: estar imerso em algo incomum, insólito, diverso daquilo que outros vivem, o induz a crer fielmente que seu espírito está preso dentro do que é e assim segue a sina de viver, pois não há outra maneira de o eu não ser eu, e talvez o que o acometa também atormente outras almas inquietas como a sua.