quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

DEVANEIOS

 Boris Kossoy

Vão se dissipando os últimos raios de sol no horizonte, que mal se podem enxergar pelas casas. Fica apenas aquele colorido risonho e vergonhoso. Na casa ao lado, a música alegre acompanhada por risos estridentes. No quarto, só restam o cinzeiro e o corpo nu e solitário. Já não mais sente a dor de estar sozinho. O tempo vai adaptando-o, moldando-o para que, num inesperado momento, alma e corpo estejam finalmente prontos para a grande aventura de encontrar o preenchimento que outro deixou. A fisgada presente, latente da solidão. Dói-lhe passar os dias só, sem estar (ou ao menos saber estar) na mente de alguém: qualquer um que se lembrasse e telefonasse, ou que apenas viesse tomar uma xícara de café... Provavelmente daria seus ouvidos a esse ser que caridosamente viesse comungar com a sua solidão ou juntar-se a ela.
Este estado de percepção: estar imerso em algo incomum, insólito, diverso daquilo que outros vivem, o induz a crer fielmente que seu espírito está preso dentro do que é e assim segue a sina de viver, pois não há outra maneira de o eu não ser eu, e talvez o que o acometa também atormente outras almas inquietas como a sua. 

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