terça-feira, 28 de agosto de 2012

Baile del vida


Ele ali sentado, o momento de se acalmar, parar um pouco, a pausa de sua enfadonha rotina. Não. Talvez sua rotina não fosse tão enfadonha. Suas botas empoeiradas, seus cabelos brancos, seu uniforme cinza escuro que deveria ser quente em dias ensolarados.
Passavam por si e só passavam. Ninguém o olhava a recolher do chão toda sujeira ali deixada, todas as pontas de cigarro imprudentemente jogadas, sua função manter a ordem do limpo, deixar todo o ambiente hostil e tenebroso do lugar um pouco mais acolhedor.
Observava e gastava bons minutos a observar os que vinham e iam. Os que carregavam livros nas mãos eram seus prediletos, questionava que diabos haveria nesses livros, de certo perdiam tanto tempo para lê-los todos, mas não julgava, pois perdia vários minutos, também, do dia a observar.
Sua mulher morrera cedo o deixando sozinho na labuta da vida que não tem como escapar além de vivê-la e vezenquando encontrar bons ouvidos para reclamar e contar boas histórias.
Não sabia se havia alguma missão em sua vida além de limpar e passar o dia nessa sina que já habitual lhe era.
Apesar de cristão não tão fervoroso, fumava, porém era regrado, separava no seu dia três intervalos, fora o almoço, para pausar e acender um cigarrinho, na hora que via alguém acendendo um em lugar inapropriado sentia certa autoridade para dar uma advertência para se dirigir para a área dos fumantes.
Willy Ronis
Das três vezes que pausava durante o dia, em duas delas tomava um café, claro, pensava consigo, que o de sua mulher era bem melhor, mas depois que se fora jamais encontrara café igual.
Não era de viajar, não tinha parentes longe logo não haveria necessidade ou motivo de se locomover para outros cantos.
Tinha uma irmã mais velha criada pela tia, porém por ter começado a trabalhar muito novo, se mudar e casar não tivera tanto contato nem o mínimo com sua irmã, sentia um grande arrependimento, mas o que faria se não cuidar de sua vida.
Seu sonho além de ter tido um filho homem, o qual não tivera, era ter trabalhado no exercito que nem chegara perto.
Depois de tanto confabular consigo, ele-o-faxineiro levantou, agarrou a sua companheira de anos e ferramenta de trabalho e se prontificou a fazer o que fazia limpar.
Deixara bem evidente que sua vida não lhe parecia triste muito pelo contrário, foi e é feliz, ser amado, conseguiu o que poucos conseguem, mas a tuberculose a levara, ela era danada daquelas criadas noutro tempo, que hospital, só servia para quem não confia em Deus, ela-sua-esposa não iria não, preferia, caso tivesse que morrer, em sua cama, no seu quarto, na sua casa, pois se fechasse os olhos estaria de imediato no céu a admirar a glória.
Essa vida tem muito em comum com a própria vida. Via tantos mendigos, moradores de rua onde trabalhava e ficava indignado a sujeição desses cabras com a vida, mas como pode não resistirem a dureza do pão duro. Eu mesmo – exclamava quando se colocavam para ouvi-lo – comi tanto pão duro com café e nunca cedi, mesmo quando perdi meu tesouro levado por aquela doença maldita, ah mas Deus sabe o que faz! Preferia vê-la descansar do quê a sofrer, a pobre não merecia mais sofrimento, se recusava a tomar até os remédios.
Certo dia, não sabia especificar, foi assistir um teatro de rua, disseram-lhe que era uma peça, não entendeu bem, sabia apenas que se tratava de coisa de ator, veio em si uma vontade gritante de assistir aquilo, pois foi o que fez. Na rua mesmo um bando jovem se movimentava d’um lado para o outro, a falar coisas que já tinha escutado: coisas da vida, da mulher que trai o cabra, dos operários que se revoltam contra o patrão, de homem com homem; sentia-se até orgulhoso por entender tudo aquilo, entendia, pois anos a fio via pessoas embarcarem e desembarcarem no seu serviço, gente que nunca sequer imaginou que existia nesse mundão de Deus. Se tivesse um filho ia querer que o guri assistisse essas coisas pra saber que existe gente que trabalha disso falar da vida, ele-o-faxineiro sabia fazer isso, oxi tinha tanta história para contar, mas não se vestia como os jovens atores e ficaria até com vergonha de falar no meio e diante de tanta gente.
Sua casa uma modéstia só, mas era sua, sua mesmo, havia terminado de pagá-la a dois anos, vivia e ali morreria, como seu tesouro.
Por vezes, até lia, com alguma dificuldade jornais esquecidos nos bancos ficava tão alterado que preferia jogar no lixo todos aqueles jornais. Tanta morte, violência, fazer o que se a vida descambou nisso.
O relógio despertou as seis, abrira os olhos e nada via com nitidez. Suas pernas formigavam e suas mãos estavam dormentes, imaginou que poderia ser um sonho ou a sensação de estar acordado porém dormindo; uma estalada no seu peito dissipou sua suspeita de estar a dormir, os segundos passaram a dor forte aumentara e não se dissipara, de súbito viu seu tesouro a rir, calmo riu; pois já estava morto, encontrado morto, morto com um sorriso como quem aceita a morte, morto a sorrir.  

4 comentários:

  1. Da onde a SENHORA copiou isso? Eu li um artigo igualzinho de um acadêmico da USP, isso é plágio sabia?

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Sua sensibilidade meu Nei. Meu Cae. É extremamente bela. Parabéns e continue sempre assim: Com os ouvidos atentos à ouvir os silêncios mais profundos da alma.

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  4. De um modo ou de outro seus escritos... seu modo de olhar os sujeitos que compõem nosso cotidiano maluco, sempre me emocionam... Não vejo como poderia ser diferente... seja através da lente ou de palavras você se coloca ao avesso... e se mostra cada dia mais... mais belo, mais raro, mais você.. mais os outros...

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