quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

préfacio

Um candeeiro se acende trazendo uma inspiração de tempos longínquos que queima nas entranhas.
Vislumbrada a morte, a coruja canta, embala as memórias, trás o tênue sorriso de minha mãe, um misto de ternura e mansidão, na inércia não me locomovo só retraio nesse fogo misterioso, espreito na escuridão do pátio banhado pela luz negra, dispersos corações distraídos pela sedução de seus próprios corpos encarnados a se movimentar.
Um abrigo qualquer no relento me acalenta, entre o pátio escuro e a miragem de uma luz em que se espera, mas não chega, a intensidade da escuridão é tão forte que não se pode saber em qual posição se acomoda, pra cima, virado, de costas de verso, reverso, perscruto se a morte se materializou na ausência, ou se sou a ausência a revelar a escuridão que habita no hábito de vestido preto que a mãe veste, nas lentes escuras que afunda as lágrimas e as esconde, chamariz de insetos peçonhentos, quando o galo cantar a luz se acenderá ou dormirei na eternidade?

Velha ribanceira que me atirou num atoleiro, lá a morte me abraçou com dentes lustrados, afiados, pontiagudos, brilhava como se seduzisse príncipe, já não sei se principiei, ou se principiaram, perca total, impossível voar agora que minhas asas com forte corte os deuses as sentenciaram, não ouço vozes, somente o silêncio, nem mais a coruja canta, os grilos, pirilampo, nada existe nesse lugar, por vezes chego a pensar que estou num campo vasto, outras num corredor apertado, falta o ar, de repente, o ar não mais existe, mesmo com prontidão não existem ordens para obedecer, somente escuridão. 
Edward Weston
 

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