sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Noite Intensa

Bill Brandt
O que procurara naquela noite? Pouco ou nada. Estava ali recostado numa cadeira, desconfortável, dura, com o rádio ligado, melodia agitada tomava conta do ar. Um momento e a incerteza de realmente ser-um-ser-incerto. As palavras com dificuldade brotavam, espremia-as de forma violenta, resultando-lhe numa dormência incômoda, lutava com todas as forças contra o peso que tentava lhe esmagar; seus pensamentos vagos e dolorosos, vinham e iam, numa velocidade estonteante. A pergunta que rondava sua cama e a noite insone: por que deixar mais uma vez ser enganado? E, de uma forma incrível não sabia respondê-la, pelo contrário, se martirizava, penetrava-lhe indagações em sua mente, como que provocando dor. Presenciara numa noite uma discussão, que o deixara suspenso no ar. Quereria que alguém tivesse aquela preocupação de mãe, que defende e alerta a cria para as verdadeiras faces da vida e os perigos que o acometiam. Descobrira ali naquele momento a solidão, dura, fria, incolor e foi descortinando a própria vida, seria ilusão ou estaria nessa constante solidão? Percebera que a solidão não tem gosto, mas por vezes cria formas, tão vazias, sem cor, brilho... Ficara assim e não teriam justificativas que o impulsionasse ou o jogasse para um lugar onde reina a esperança pois se fora e a tentativa de resgatá-la é tão tola e patética, que se envolve em teias, que o levavam para um sofrer superior, mais dolorido e corrosivo; quantas pílulas seriam dessa vez? quantos dias a cama o sucumbiria? todas essas perguntas o invadiam, se permitir navegar por esse mar já conhecido, proporcionava-lhe saber e calcular as hipóteses do que viria, mesmo assim persistia.
Se apressava para encontrar alguém, eis o destino que alguns buscam ou quase todos; percorrer um caminho sem conhecê-lo para obter a garantia - de que num futuro próximo - a solidão não seja uma constante. O fato era que não aprendia com a solidão, que estava presente num momento ou noutro, inevitável fugir, pois somos nós mesmos, sem adornos, enfeites a própria solidão.

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