quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Volúvel Comum

Entrara naquilo que chamo de caos urbano, alguns denominam como transporte público, e outros com simplicidade simplesmente chamam de coletivo. O dia corria como gotas de suor, que percorriam todo o corpo, principalmente a testa, o sol tostando o rosto, queimando os poucos neurônios que me faziam pensar. Entrara, isso, entrara no coletivo, sentada em um dos últimos bancos, uma mulher, aparentava ter uns quarenta anos, no máximo, uns cinqüenta, decidi por me sentar atrás da mesma, suas pernas eram grossas, fiquei a refletir sobre as batatas daquelas pernas, numa tentativa insana de qualificar ou denominar o formato daquilo, abundantemente protuberantes, enfim, encontrara um adjetivo, pareciam mamões que se encontravam e por vezes se roçavam, arquitetara na mente, já exausta, uma linha sobre minha vida, não toda, por que daria um trabalho gigantesco e cansativo. Tudo que sentia se esvaía de mim, sem ao menos poder ter controle sobre o que ia ou vinha, uma abstração anormal, confusa, hermética, o tentar sempre entender tudo provocava pane de um maravilhamento que me transportava para linhas, assim sem nexo, com perca do meio, e muito menos sem um fim.      
Chegara quase no findar do dia aonde desejara. Naquele momento senti uma necessidade imensa de me tele transportar para qualquer lugar que não fosse ali, ou onde anteriormente me encontrava, resolvi me aventurar no lugar de que a muito me ausentara. Agradabilíssimo seria um eufemismo para o que sentira ao concluir o passeio. Olhava o tempo naquelas crianças que à tão pouco eram pequeninas e agora se tornaram escala do maior para o menor, senti uma fisgada ao ver o tempo no canto dos olhos, suas marcas demonstravam que também não sou imune, e se acaso imaginasse ou tentasse imaginar que o era seria infame e estúpido. Vira também o tempo nas fotografias que com um entusiasmo, ingênuo e sincero, mas, nem um pouco excitante, iam a me mostrar. Folheava aquele álbum assim igual a um teólogo que ao ler versículos se emociona e embarca num soluço de choro mental, relembrando anos que me pareciam dourados ou, contrariando o dourado, me remetia a um bege com tonalidades envolta de um azul intenso, espécie de moldura. Diminuía o cigarro, sem fazer muito esforço ou sem sentir ausência da compulsão com a qual tragava vários filtros durante o dia. Talvez, isso refletisse meu momento, o momento, este pelo qual passo e que me parece brando e pesado, uma carga cheia de dualismos. A pergunta que se tornara cotidiana sumiu. Encontrara o raríssimo amor, contudo, a imensidão deste amor ficara somente nas recordações, pois, a figura e a presença do mesmo não sinalizavam a intensidade alvoroçada com a qual me tangeu e arrebatou. Agora só seguiria essa vida, na tentativa desenfreada de procurar e encontrar aquilo me trouxesse a inspiração lírica que humanizava e, me tornava bélico, com o perigo de explodir de tanto amar.


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