quarta-feira, 30 de maio de 2012

Autopsia Humana

Ismael Nery, Nu no Cabide, 1927

Acreditava que seu pequeno mundo estava consolidado em bases sólidas, tingia todos os dias como criança, cores para sustentar sua fraqueza de espírito, assim o viam, porém, ele-garoto-maroto se sentia muito esperto, sempre aproveitando das situações, instinto comum a todos, rearranjando os laços de amizade conforme os ventos do sul ou norte, não sabia bem, corriam e entravam pela sua janela, de lá pensava estabelecer seu trono, manchado por várias qualidades que já haviam se ausentado por tê-las vendido.
Sua delicadeza desprezada por uma submissão aparentemente segura o distanciava de todos, somente os escolhidos por seu rei poderiam coabitar no mesmo espaço sereno, senão todas as forças astrais conspirariam para tornar o ambiente hostil, assim os observadores acreditavam, assim agia, afinal era seu mundo, por que questioná-lo? Ao fazê-lo estaria eliminando o que se tornara, suas justificativas escorregavam num mangue que se formara em seu entorno, sem ver, dar conta, reparar, diante de tanta serenidade escondia uma passividade que mascarava seus mais obscuros pensamentos, só embriagava com seu falso brilho os que não o conheciam.
Por quanto tempo viveria assim? Quem poderia responder, aliás, poucos concentravam forças para entendê-lo, porém não percebia, o mundo gira dessa forma, as pessoas não tem culpa, só não podem se revestir da couraça da inocência, essa quando foi embora se despediu para não mais voltar.

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